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terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Criações de uma sociedade moderna




Ainda está escuro
Mais para eles já é tarde
Acordam assustados
Para mais um dia de “trabalho”
Um pão duro e um café ralo
É tudo que lhes é permitido
Como café da manhã

As roupas sujas
Os olhos fundos
A expressão cansada.

Rapidamente eles sobem no caminhão
Amontoados como animais sem valor,
Eles partem para a carvoaria

O sol começa a despertar 
Com todas as suas cores,
As árvores à beira da estrada
Iluminadas pelo brilho do sol,
Agitam euforicamente seus galhos
No embalo do vento,
O ruído triste que soa no meio da mata
Parece compadecido ao assistir
Mais uma cena daquela mórbida novela.

Eles prosseguem, calados,
Cada um , provavelmente,
Pensando na família
Que agora é só uma lembrança distante.
Deixaram mulheres e filhos
Para trabalharem por eles.
Mas, a realidade em que vivem
È muito Cruel
Ali não há proteção
Não há lei
Não há alegria,
Só trabalho todo dia
O dia todo
Até que a lua apareça no céu
E deixe a noite escura
Como escura está o coração
De quem um tão grande  mal faz.

O mundo perdeu as cores
Tudo se resume a cinzas
Como as que sobem da madeira queimada

Eles não tem descanso
Nem hora extra,
Nem salário
A cada dia se tornam mais presos
A uma divida que não abriram.

Muito longe dali
Alguém perde o sono
E pergunta a Deus
Onde está o seu esposo
Nas noites solitárias reza e chora
A mesma prece, sempre...
“Que seu amado volte.”
Sem saber da dimensão do sofrimento
Que se transformou o sonho
Que juntos traçaram
De dar conforto aos filhos
E cada dia que passa
Se vê mais só e sem esperança

Lá na fazenda o pai chora
Os filhos que não vê crescer
Nas noites frias,
Tendo a lua por companhia
Deus se torna o fio que uni
Em uma só prece
Dois corações tão distantes.

E quando o desespero é grande
E o desejo de liberdade
Se transforma em coragem
É perseguido e caçado
Como se caça uma raposa

No meio da noite
Ouve - se um tiro
O corpo inerte do outrora sonhador
É levado pelos caçadores
Para servir de exemplo

E vendo – o os que não tiveram
A mesma ousadia
Se sentem cada vez menos gente

E Deus do céu se pergunta:
Quantos séculos o homem
Terá que evoluir até aprender
Seu mais sagrado mandamento:
“Amor ao próximo”


Cecilia Amorim

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