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segunda-feira, 31 de março de 2014

O relato de detentos a estudantes da rede pública é uma das ações do projeto Conquistando a Liberdade
(Foto: Jonas Pessoas/ ASCOM Susipe)



“Pensei que ia me dar bem no mundo do tráfico, que teria muitas recompensas, dinheiro, uma vida melhor. Mas o crime só me trouxe uma vida de ilusão. Eu não tive a oportunidade que vocês estão tendo agora, de alguém chegar e me alertar sobre a vida no crime. A minha família sempre foi muito ausente. Quando comecei a praticar a criminalidade achei que a polícia nunca ia me pegar. Nesses anos todos sinto falta dos meus filhos e da liberdade”, contou o detento Eloy de Melo Oliveira, 39 anos, há cinco cumprindo pena.

Ao lado de mais nove internos do Centro de Recuperação Regional de Paragominas (CRRP), Eloy participou, na última sexta-feira (28), de mais uma edição do projeto Conquistando a Liberdade, executado pela Superintendência do Sistema Penitenciário do Estado (Susipe), em parceria com o Tribunal de Justiça do Estado (TJE), Programa Pro Paz, Ministério Público, Defensoria Pública e Polícia Militar.

O detento, que era o filho mais velho, parou de estudar na 4ª série para trabalhar e ajudar no sustento da família. Parte de sua história ele contou a mais de 100 adolescentes, na Escola Municipal Guilherme Gabriel. No local, os presos capinaram a área, cuidaram do jardim, consertaram mesas e cadeiras e fizeram reparos nas instalações elétricas e em outras dependências do prédio.

Experiências - Os alunos da escola participaram da ação do projeto denominada “Papo di Rocha”, que consiste em uma conversa franca entre detentos e os estudantes sobre o crime e suas consequências.

Para o coordenador do projeto, Ercio Teixeira, essa conversa é uma ferramenta pedagógica de prevenção. "É por meio desses exemplos que podemos evitar a entrada destes jovens para o mundo do crime. O Papo di Rocha mostra o dia a dia desses presos e o choque de viver no cárcere. Essa troca de experiências tem um efeito pedagógico em muitos adolescentes, que refletem a partir dos relatos e percebem que o envolvimento no crime não compensa”, explicou o coordenador.

A estudante Juliana Mota, 16 anos, do 2º ano do Ensino Médio, destacou a importância da família. “Tenho vários amigos que usam drogas, mas não me influenciam. Até aconselho a pararem enquanto é tempo. O Papo di Rocha é um bom exemplo pra que a gente saiba como é estar lá dentro. Minha família é fundamental em todas as minhas escolhas. E sei que só posso conseguir crescer através do estudo”, disse ela, que pretende estudar medicina.

Para a vice-diretora da escola, Marcilene Dias, essas atividades “servem para que eles reflitam e concluam que a liberdade é o nosso maior bem, e que o estudo é o caminho para o crescimento profissional”, declarou.

Pela primeira vez o detento José Antônio Franco participou do projeto. Aos 46 anos, ele vê no “Conquistando a Liberdade” uma oportunidade de mudar. “Falta pouco para acabar esse momento triste da minha vida. Quando sair daqui quero voltar a trabalhar, cuidar dos meus quatro filhos e ter uma vida digna, de cabeça erguida”, disse ele.

Benefício - O “Conquistando a Liberdade” não oferece remuneração. O preso recebe o benefício da remição de um dia da pena, a cada três participações, um direito garantindo pela Lei de Execuções Penais. Todos os internos que participam passam por uma avaliação psicossocial e treinamento. O projeto, realizado em 16 municípios do Pará, é reconhecido pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) como referência no País na área de reinserção social de presos. O projeto também foi um dos vencedores do Prêmio Innovare 2013.

Fonte: Agência Pará

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